08/09/2011

Comunicação e Periferia

"Vou falar algo a respeito da passagem de pessoas da periferia, seja Ceilândia, ou, no meu caso Sobradinho, com um trabalho em Planaltina, por um curso de comunicação. Em tese (repito, em tese), nos habilitando a sermos chamados de Cineastas. É coisa rápida, prometo que não vou ultrapassar o tempo. Quem me acompanhou na minha intensa passagem pelo Movimento Estudantil sabe que eu falo pouco...

A representação de qualquer sociedade urbana moderna passa pelo suporte audiovisual. O que é complicado no caso da representação da periferia por aqui, o centro. Sobradinho e Ceilândia, como qualquer cidade do Distrito Federal, têm modo e cultura próprios, específicos. Temos o Canto de Planaltina, de Sobradinho, da Ceilândia, de outras satélites, enfim... Todos diferentes entre si. Entender esta clareza de posições foi necessário na nossa passagem aqui para nos articularmos com a comunicação que é feita na periferia.

Sim, há possibilidade de comunicação na periferia de Brasília. Temos as Rádios Comunitárias (Como a Utopia FM), o Movimento Hip-Hop (principalmente do orgulho de ser o que é...), a cultura nordestina (da qual, sem querer me gabar, sou descendente). Mas muito do que é produzido, quando passa pelos Meios de Comunicação daqui, passa por várias mediações que diluem e enfraquecem o discurso que eles possuem. A partir do momento que se limita a uma perspectiva de representação sobre a justificação, que muitas vezes se perde na prática, de ser melhor “comercializável” se limita também a forma que é mostrada a identidade da cidade, construída pelos moradores desta mesma cidade.

Nossa passagem pela universidade foi tentando ajudar a reverter esta situação. Com as teorias e técnicas que aprendemos na Universidade e repassando para serem reelaboradas para o pessoal de fora daqui. Aproveitamos as brechas universitárias, e aprendemos com as rádios e tevês comunitárias, com o movimento negro aqui na UnB, com as propostas de extensão (não pagas, é bom sempre deixar claro) aqui na UnB. Aprendemos principalmente com os professores sem títulos acadêmicos, e com rica experiência de vida. Que nos coloca novas formas de entendimento do que é comunicação, e que representa o que a universidade pode ser (mas não é) em termos de conhecimento.

Por isso tudo, foi uma passagem em busca formação, não apenas de formatura. Em que tentamos, na maioria das vezes, ver que estarmos aqui, fechados em quatro portas de uma sala de aula da universidade muitas vezes é insuficiente. Em que tentamos superar o chamado UnBiguismo, de ver a universidade como um fim em si mesmo.

Tentar entender, e, principalmente, intervir neste processo social do qual a universidade faz parte é importante para tentar mudar esta situação. E principalmente para que as pessoas dos vários cantos do Distrito Federal possam dizer com orgulho: “É nóis na fita!!!”

(Texto de Marcelo Arruda, Comunicador Comunitário, baseado no seu discurso de formatura, dia 2 de Setembro de 2005.)