14/06/2011

adorava poesia, só de ouvir, porque não lia

domingo, após a missa
no caminho de volta pra casa
sempre passava pelo meio da feira
admirando o exposto em cada barraquinha.

quedava por um tempinho
em volta do vendedor de livros de cordel.
adorava poesia, só de ouvir, porque não lia.
fechava os olhos, pra melhor sentir a carícia dos versos.

depois, em casa, bordar.
mãos ágeis dando vida ao linho
borboletas, flores, crianças, bichinhos
... a imaginação colorindo a brancura do tecido.

sem se aperceber
a cada ponto tecia um verso
a cada arremate, uma nova poesia
poesia que amava, só de ouvir, porque não lia.


***
para Maria, bordadeira, que mesmo sem saber ler,
compôs poesias belíssimas,
com suas mãos calosas e sensíveis (bf)